A demência em idosos pode começar nos olhos

Redação

Cuidar da visão, preservar a lucidez

Você sabia que a demência em idosos pode começar nos olhos, mas os primeiros sinais podem não ser percebidos?

Desde a descoberta de uma nova célula receptora na retina humana em 2002, a IPRGC, a conexão entre distúrbios visuais e mentais tem sido evidenciada em várias pesquisas e publicações. Por consequência, esta conexão entre déficits visuais e cognitivos nos idosos tem se tornado um objeto de prioridade nas pesquisas.

Estudo sobre saúde e envelhecimento

Um importante estudo longitudinal sobre tendências de saúde e envelhecimento nos Estados Unidos, com uma amostra representativa de milhares de idosos acima de 65 anos, realizado pelo National Health and Aging Trends Study (NHATS),  fornece dados atualizados sobre diversos aspectos da vida e saúde dessa população, permitindo identificar necessidades, comparar resultados ao longo dos anos e desenvolver políticas para apoiar melhor os idosos.

Comprometimento visual e demência em idosos

A edição de 2021 do NHATS adicionou testes objetivos de visão como parte da avaliação, incluindo acuidade visual, perto e longe, e sensibilidade ao contraste. Isso permitiu que os pesquisadores analisassem com rigor a associação entre o comprometimento visual e demência nessa população idosa.

A adição de testes de visão objetivos à avaliação dos participantes foi fundamental para fornecer novas descobertas sobre a associação entre comprometimento visual e demência entre os idosos.

Novos dados da NHATS 2021 demonstraram que déficits visuais de perto, de longe e na sensibilidade ao contraste, avaliados objetivamente, estavam associados a uma maior prevalência de demência em idosos, “como sinais precoces e Inter relacionados de envelhecimento cerebral”. Déficits visuais, muitas vezes preveníeis ou tratáveis, podem ser indícios úteis na identificação precoce da demência.

O estudo conclui que quanto mais déficits visuais não tratados um paciente apresentava, maior era a associação com demência. E como a maioria dos déficits visuais são preveníeis e tratáveis, o cuidado com a saúde ocular torna-se muito importante para otimizar a função cognitiva e consequentemente prevenir a demência em idosos.

 

DÉFICITS VISUAIS E DEMÊNCIA. O estudo conclui que quanto mais déficits visuais não tratados um paciente apresentava, maior era a associação com demência.

A correlação entre problemas visuais e cognitivos encontra paralelos em outros aspectos. Ambos são produtos da delicada maquinaria do sistema nervoso, tecidos interconectados que envelhecem e se deterioram juntos. Cada lesão é como uma pequena quebra no vidro – ainda visível, mas diminuindo gradualmente a transparência e clareza da visão e da mente.

Os déficits visuais e cognitivos compartilham também muitos fatores de risco comuns: idade avançada, diabetes, hipertensão, tabagismo, sedentarismo. Mecanismos semelhantes, como isquemia, neuroinflamação e ansiedade, podem prejudicar simultaneamente as vias visuais e as redes neurais do cérebro.

Tratamento precoce e Estilo de Vida preventivo

Assim como tratamos precocemente os déficits visuais para preservar o campo visual, devemos controlar precocemente fatores de risco cognitivos, evitando sua progressão implacável. Sinais iniciais de esquecimento e confusão devem ser levados a sério pelos oftalmologistas, como o primeiro aviso para incentivar tratamentos e estilos de vida preventivos.

Alguns casos de cegueira cortical sugerem que lesões visuais avançadas podem inclusive precipitar a degeneração cognitiva. Portanto, impedir o agravamento dos déficits visuais pode ter efeitos benéficos indiretos no cérebro envelhecido. Cuidar dos olhos é, assim, cuidar também da mente – ambos órgãos transcendentais para a percepção e identidade humanas.

É lícito especular que melhores resultados visuais após cirurgia oftalmológica, para retirada da catarata, por exemplo, ou uso de óculos podem trazer sensações positivas que reativam a cognição, como quando as letras voltam a ficar claras e nítidas diante de nossos olhos. A visão corrigida age como um incentivo para o cérebro, reavivando seu senso de propósito e capacidade.

“Ao cuidarmos dos olhos comprometidos, estamos fazendo muito mais do que devolver a capacidade de ler e ver – estamos preservando também a mente brilhante por trás desses olhos.” Dr. Ricardo Guimarães, médico oftalmologista, Diretor do Hospital de Olhos de Minas Gerais 

Artigo escrito com a colaboração do Dr. Ricardo Guimarães, tendo como referência o artigo: “Prevalência de perda visual e demência em adultos mais velhos nos EUA” por Olivia J. Killeen e colaboradores foi publicado no Jornal de Oftalmologia da Associação Medica Americana. O estudo investigou a relação entre perda visual e demência em mais de 12000 adultos com mais de 55 anos nos Estados Unidos.