O daltonismo pelo olhar do daltônico

Redação

Enxergar as cores trocadas ou não conseguir diferenciar uma da outra. 

Como é ver o daltonismo pelo olhar de um daltônico? Pedro Henrique Gomes é publicitário, artista e tem 29 anos. Ele nasceu daltônico e só descobriu a anomalia aos 17 anos, por meio de um teste. Depois disso, todas as confusões na hora de colorir um desenho na infância foram, então, justificadas.

“As coisas mudam um pouco depois que você descobre que é daltônico. Começar a entender que é uma condição visual, e não uma limitação intelectual ou cognitiva que te faz cometer erros bem básicos”, diz Pedro. Os erros básicos, ao quais ele se refere, são atividades consideradas simples pera maioria das pessoas, como, por exemplo, identificar as sete cores do arco-íris. Ou escolher entre uma maçã vermelha e uma verde.

“O maior desafio foi na época da faculdade. Era complexo explicar pros professores que eu precisaria trabalhar com os códigos CMYK ou RGB para identificar as cores. É um processo fazer com que as pessoas acreditem e aceitem que você é daltônico. Hoje, lido com essa barreira de maneira diferente. Não tenho receio de avisar que não sei a cor e que preciso do código”, conta.

De acordo com Dr. Ricardo Guimarães, médico oftalmologista, presidente do HOlhos de MG,  ter uma alternativa para solucionar esta confusão de cores, principalmente quando se trabalha com design, é fundamental. Mas, com os recursos certos, nada poderá impedir que o daltônico vá em busca de seus ideais.  “Ser daltônico não pode impedir uma pessoa de ter sucesso na vida”, comenta o oftalmologista.

 

DALTÔNICO REAL O príncipe Willian, filho da Lady Di, é um dos que está na lista de daltônicos famosos

Não à toa, o especialista chama atenção para uma lista de famosos que tem daltonismo e fazem sucesso. “Muitas pessoas bem-sucedidas são daltônicas. Alguns deles são o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton; o Príncipe William, da Inglaterra; o escritor americano Mark Twain; o diretor de Hollywood Christopher Nolan, o cientista John Dalton, o CEO do Facebook Mark Zuckerberg, o ator Keanu Reeves, Eddie Redmayne, Meat Loaf e Paul Newman.”

Inclusive, Dr. Ricardo Guimarães chama atenção para uma curiosidade: o logotipo do Facebook é azul, porque essa é a cor dominante que Mark Zuckerberg vê. “Mark sofre de daltonismo vermelho-verde”, pontua.

COMO DIZER AO MUNDO QUE VOCÊ NÃO ENXERGA TANTAS CORES? Para Pedro, o maior desafio foi na época da faculdade. Era complexo explicar pros professores que para “distinguir as cores” ele precisaria trabalhar com os códigos CMYK ou RGB.

Amigos e familiares de Pedro até tentaram comprar os óculos para que ele enxergasse as cores como elas são, mas ele não se interessou muito pela mudança. “É bom entender que enxergo diferente e saber lidar com isso. Não acredito que uma mudança nesse estágio da minha vida seria algo a ser comemorado, seria legal, mas não é necessário.”

 

COMO USAR NÚMEROS PARA DIFERENCIAR CORES? Para um daltônico é impossível distinguir todas as cores e suas variações de tonalidade. Como designer, Pedro usa as tabelas RGB, CMYK, Pantone, onde cada cor e variações de tons, tem um código numérico.

Nesse cenário, ele conta que ainda enfrenta algumas dificuldades. E haja história para contar, segundo ele. A mais recente foi a compra de uma camiseta. Ele a comprou pela internet achando que era preta, porém, quando chegou, ele percebeu que era verde. No entanto, seus amigos o contaram que, na verdade mesmo, ela era cinza. “E a história mais marcante foi no Detran, no exame médico para tirar carteira. Eu confundi o verde com o vermelho. Tive que refazer o teste e mostrar que era capaz de ter uma CNH.”

COMO É FEITO O TESTE PARA DALTÔNICOS NO DETRAN? O diagnóstico pode ser feito com o Teste de visão de cores de Ishihara, através de uma sequência de diversos círculos, com diferentes cores, tamanhos e brilhos, com números subscritos.  Pessoas com daltonismo não conseguem enxergar os números que constam nos círculos.

Assim sendo, Pedro Gomes comenta como se adapta ao mundo colorido: “Uso muito a tática de buscar tons neutros, com peças de cores diferentes, para me vestir, justamente para não cair no erro de usar tons parecidos demais ou que não combinam”, diz. Ele completa revelando que entende sua condição e que não deixa o daltonismo o limitar. “Eu sou um cara de 29 anos, daltônico, trabalho com arte. Desenvolvo um trabalho consistente e que cada dia mais é reconhecido. Acho que entender que o daltonismo não é uma pedra no seu caminho é a chave para realizar o que você deseja, caso queira trabalhar com cores.”

Quer saber mais? Então acesse esta entrevista com Dr. Ricardo Guimarães com as perguntas mais frequentes sobre o daltonismo.