Você sabia qual a função da lágrima para a saúde da visão?

Redação

Saiba quais são os tipos diferentes de lágrimas e porque elas fazem bem para a visão

Você, com certeza, já chorou e lacrimejou mesmo sem entender o porquê. Mas, você sabia qual a função da lágrima para a saúde da visão? Pois bem, isso, com a ajuda do Dr. Ricardo Guimarães, vamos te contar.

Neste artigo você vai, finalmente, entender as funções da lágrima para o bom funcionamento dos nossos olhos. Então Doutor Ricardo, conta pra gente quais tipos de lágrimas produzimos e para que?

A principal função da lágrima é lubrificar os olhos. Com isso, ela melhora a visão. Mas também imunizar, porque junto com a lágrima, que é essencialmente água, muco e algumas proteínas, há também uma série de eletrólitos, lipídeos, mucinas e enzimas que ajudam na limpeza dos detritos presentes no olho, protegendo-o. E, mais que tudo, ela ajuda também a oxigenar aqueles tecidos que são cobertos pela pálpebra, ou seja, alimentá-los”, comenta Dr. Ricardo Guimarães, oftalmologista e presidente do HOlhos de Minas Gerais

Justamente por isso, a lágrima é essencial para suprimir os sintomas e sinais do olho seco, causado, inclusive, pela má formação ou escassez de lágrimas no olho, como visto anteriormente aqui no Visão Para o Futuro. 

TIPOS DE LÁGRIMAS

E, para todas as funções que as lágrimas assumem, há um tipo de lágrima. Não, a lágrima não é apenas uma, aquela água que escorre pelo rosto e tem gosto de sal (você já provou, né?). “Temos três tipos diferentes, sem incluir a famosa lágrima de crocodilo, que é mais piada do que real, embora crocodilos chorem especialmente quando está se alimentando – esse ato comprime as glândulas lacrimais e acaba produzindo alguma lágrima.”

É o que afirma Dr. Ricardo Guimarães, que elucida, ainda, como cada lágrima se encaixa em uma função específica para a saúde ocular. Ao todo, são três tipos de lágrima para três funções distintas. Confira:

*Lágrima basal: responsável pela lubrificação dos olhos e produzido constantemente;

*Lágrima emocional: é igual para todos os choros emocionais, sejam eles de alegria ou tristeza;

*Lágrima reflexa: produzida quando o olho é atacado/agredido por um acidente, corpo estranho ou alguma coisa que irrita os olhos para que o órgão possa se proteger.

“A basal é uma lágrima produzida constantemente. Nós produzimos uma grande quantidade de lágrimas durante o dia – durante a vida, se somar tudo, produzimos litros de lágrima – e essa secreção basal é aquela que, quando é produzida diariamente, a pálpebra, quando piscamos, ajuda a espalhar essa lágrima por todo o olho. E ela ajuda a promover a limpeza e lubrificação. Quando ela cumpre a sua função, ela é excretada pelo canal lacrimal”, comenta Dr. Ricardo Guimarães. 

Já a lágrima reflexa, produzida no caso de irritação e em doenças, pode assemelhar a sua produção, em caso de corpos estranhos, por exemplo, com as cebolas. Se você vai descascar cebola, a lágrima desce, não é mesmo? É uma espécie de proteção! Enquanto isso, a lágrima emocional “é a mais bonita”, conforme o oftalmologista. “É a lágrima da emoção e da tristeza. Ou seja, na alegria ou na tristeza, a gente chora.”

“Qualquer sentimento que provoca algum tipo de surpresa, empatia, raiva, ansiedade, frustração, nos faz chorar. Essas lágrimas emocionais ativam uma parte do nosso sistema nervoso, chamada de parassimpático. Depois que você chora, quando cai no saco lacrimal e é absorvido pela mucosa nasal, você sente certo conforto porque o choro libera, junto com a lágrima, um hormônio chamado ocitocina e isso causa a sensação de calma e ajuda a aliviar a dor física e/ou emocional.”

E sendo a mais emotiva “e bonita”, Dr. Ricardo Guimarães garante: pode chorar à vontade! Segundo ele, lágrima nunca irá faltar, ao contrário do que diz a música “quero chorar, não tenho lágrimas”. “Isso não é verdade. Você pode chorar que lágrima não vai faltar”, afirma.

E POR FALAR EM CHORO…

Apesar de as lágrimas não acabarem, elas podem estar escassas ou em baixa produção, é o que causa o olho seco, inclusive, quadro mais comum em mulheres, conforme o Dr. Ricardo Guimarães. “Cabe até uma brincadeira: dá para dizer que as mulheres já gastaram todas as lágrimas chorando, porque as mulheres são mais sensíveis, manifestam mais sentimento e o homem se faz de ‘machão’. A mulher expressa esse sentimento com muito mais naturalidade.”

Realmente, as mulheres choram mais do que os homens – em média, uma mulher chora em torno de três ou quatro vezes por mês, e o homem não chora mais do que duas vezes por mês. Porém, é uma brincadeira, porque nada tem a ver a lágrima que você já chorou com a lágrima que você ainda tem. Mas, por que a mulher tem mais problema de olho seco que o homem? 

“Biologicamente, a gente pode ter um motivo, porque a testosterona inibe o choro e o hormônio prolactina, que é da mulher, presente principalmente nas mulheres mais jovens, e que estimula o choro. Então, você tem um inibidor da produção de lágrima. E as mulheres têm mais prolactina, que é o hormônio reprodutivo e estimula a produção de leite após o parto, e essas lágrimas emocionais são especialmente ricas em prolactina, o que dá para explicar o porquê de as mulheres chorarem mais do que os homens”, explica o oftalmologista presidente do HOlhos de Minas Gerais.

No entanto, essa diminuição na produção de lágrima tem a ver, também, com a terceira idade, quando acontece a menopausa da mulher – período que demarca o último ciclo reprodutivo feminino. “Ela tem mudanças hormonais, embora aconteçam ao longo de toda a vida dela. Na menopausa, há a diminuição da progesterona e estrógeno, e essa diminuição tem impacto na produção de lágrima.”

“Temos que acrescentar também que nessa idade há maior possibilidade de desenvolvimento de outras doenças que concomitantemente diminuem a produção de lágrima, como é o caso do diabetes e até mesmo da artrite reumatoide. Posso lembrar que as mulheres ainda são mais suscetíveis a fazer uso de sedativos e antidepressivos, justamente por serem mais sensíveis. Além disso, há o uso de anticoncepcionais na fase próxima da menopausa e grande parte da vida, que também influenciam nesse cenário.”

E SE FALTAR LÁGRIMA?

Para além das características fisiológicas femininas, alguns hábitos podem causar a diminuição da produção de lágrimas, como é o caso do uso do ar condicionado e de ambientes de alta ventilação, também responsáveis por causar o olho seco. Isso porque elas vão produzir uma maior evaporação da lágrima, causando um desequilíbrio entre produção e demanda. 

“Mais recentemente, muitas pesquisas têm começado a relacionar a baixa produção de lágrima com o uso de iluminação de LED, tela de computador e tela de celular. Nós temos uma sensibilidade muito grande a essa faixa de energia emitida pela radiação produzida pelo LED, pela tela do computador. Eu acredito que nos próximos anos vão aumentar a nossa preocupação ou o nosso cuidado na exposição de luz próxima ao azul, da luz azul, que tem sido responsabilizada por dor ocular, pelos sintomas e sinais que são característicos do olho seco”, afirma Ricardo Guimarães.

A ausência dessa lágrima, para além de causar o olho seco, pode propiciar a entrada de corpos estranhos nos olhos e possíveis inflamações oculares. “O próprio olho seco faz um quadro propício para que lesões e agressões tenha uma resposta empobrecida do olho em sua capacidade regenerativa, abrindo ‘porta’ para infecção, fungos e bactérias, especialmente se essa pessoa persiste ou mantém aquele fator de agressão, como lente de contato ou um fator ambiental onde ele está exposto a um fato de evaporação muito alto, o que seria o caso de um motociclista ou um ciclista que não usa a proteção de óculos para o vento.”

“Ou pode ser ainda uma pessoa que está trabalhando sob estresse e diminui o número de piscadas que dá por minuto. Então, o olho seco facilita o aparecimento de quadros inflamatórios crônicos e até mesmo infecciosos, em razão da ausência de lágrimas, responsáveis por proteger os olhos.”

E SE SOBRAR LÁGRIMA?

E se pode haver escassez de lágrimas, o outro “lado” da balança é o excesso. E, sim, pode haver excesso de lágrimas. Como visto anteriormente, as mulheres choram mais do que os homens. Em partes é verdade por uma série de motivos que já vimos, porém, as mulheres também têm um ducto lacrimal mais estreito do que o dos homens. Então, quando ela chora ou lacrimeja, há chance de aparentar uma produção maior de lágrimas.

“A maior causa de uma aparente produção a mais está no entupimento do canal lacrimal. A lágrima não tem por onde sair, aí ela extravasa e cai. É o que chamamos de epífora. Mas, lacrimejamento em excesso só registramos quando há uma agressão e produção reflexa de lágrimas pela agressão aos olhos. De outra maneira, o que ela produz é suficiente para a demanda, e ela sai pelo canal lacrimal.”

Portanto, vamos caracterizar como excesso de lágrimas quando parte da lágrima que é produzida não passa pelo canal lacrimal e cai para fora da pálpebra.

TRATAMENTO

Tanto a produção “em excesso” e a ausência de lágrimas podem, e devem, ser tratadas. Assim sendo, em caso de produção a mais por uma obstrução do canal lacrimal, é necessário fazer uma reabertura. Já na produção a menos, seja pelo fator climático, ambiental ou produção diminuída, é importante produzir um equilíbrio. E como fazemos isso? 

“Vamos usar óculos, usar uma proteção, um umidificador no ambiente, colírios para suplementar a lágrima e, mais que isso, sentiu o olho seco? Para um pouco, pisca com mais frequência e dê um tempo para que essa recuperação aconteça de uma maneira fisiológica”, recomenda Dr. Ricardo Guimarães, referência mundial em visão.

Falamos muito de escassez de lágrima aqui, né? Mas, você sabe tudo sobre olho seco, inclusive que ele pode causar coceira ocular e provocar uma outra doença: o ceratocone? Não?! Leia os artigos e saiba mais sobre olho seco e ceratocone em nosso blog