Epidemia de miopia. Você já ouviu falar?
Estamos vivendo uma epidemia de miopia no mundo?
Você é ou conhece alguém míope? Então saiba que esse círculo “de amizades” com pessoas míopes pode aumentar! É isso mesmo! Ao que tudo indica, vamos viver uma epidemia de miopia no mundo. Sabe por quê? É que com a superexposição às telas e à luz azul, a incidência de casos relacionados à dificuldade de focar e ver com nitidez de longe pode aumentar .
“É verdade”, esclarece Dr. Ricardo Guimarães, médico oftalmologista, presidente do HOlhos de Minas Gerais. Segundo ele, esse é um problema que ficou virtualmente impossível de ignorar nos últimos anos. Em 2010, apenas 28% da população mundial era afetada. Hoje, estima-se que este percentual está em 35%. Em 2050, esse número pode chegar a 52%. É o que aponta os índices da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Alguns países da Ásia apresentam taxas preocupantes, sendo esse continente o mais afetado.
“Hoje, cerca de 90% da população jovem é portadora de miopia em países como Taiwan e Japão. Em Singapura, aos 9 anos, até 44% das crianças têm miopia e até 80% dos adultos eventualmente a desenvolvem”, destaca o especialista.
Mas, por que estamos diante de uma epidemia de miopia no mundo?
A alta exposição às telas de computadores, tablets e celulares, por exemplo, tem parcela considerável de culpa neste aumento de miopia, conforme Ricardo Guimarães. “Sabemos com certeza que este aumento de casos se deve a grande exposição a luz artificial e pouca exposição a luz natural, a do sol. Estudos recentes feitos em Taiwan e na China mostram que 40 a 80 minutos extras ao ar livre durante o dia reduziram a incidência de miopia em crianças em idade escolar em até 50%.”
E como a pandemia de COVID-19 pode agravar esta situação?
Nos últimos 18 meses, em razão do isolamento social, fomos forçados a manter a rotina dentro de casa, sob iluminação artificial, home office e aulas on-line. Por isso, Dr. Ricardo Guimarães chama atenção para o agravamento dos casos de miopia em crianças.
“Mesmo diante das medidas e dos protocolos sanitários em função da COVID-19, é importante levar as crianças para brincar ar livre. Isto porque, além da epidemia causada pelo novo Coronavírus, temos outras epidemias globais por surgir, como por exemplo, de obesidade, diabetes, retinopatia diabética e a eminente epidemia de miopia. Em outras palavras, a epidemia de COVID faz agravar outras epidemias, como a de miopia, diabetes e obesidade”, comenta.
E isso muito tem a ver com a rotina em casa. Vivemos em ambientes fechados, usando luz artificial praticamente durante todo o dia e, também, no período da noite. Aumentamos a quantidade de luz dos ambientes e, pior, a luz que usamos, a de LED, é diferente da luz elétrica tradicional e da luz natural. Mais ainda, usamos em demasia telas de computadores e celulares, também iluminados por LEDs que são ricos em luz azul, o componente mais nocivo da luz.
Então, a luz azul pode causar miopia?
Sim, a luz azul pode causar miopia. Isto porque os nossos olhos e à nossa visão, estão muito mais adaptados à luz natural. A luz vinda do sol é policromática, ou seja: composta por vários espectros luminosos, cada qual com o seu comprimento de onda. É por isso, inclusive, que conseguimos ver as cores. Além disso, a luz natural é uma energia que chamamos de luz incoerente, que se espalha no ambiente em várias direções.
Já a luz do LED é diferente. Ela é monocromática e coerente. Ou seja: podemos direcioná-la como um canhão de luz. E esta é a maior preocupação dos cientistas e estudiosos do tema. Na luz azul, um dos componentes do LED, é capaz de estimular o nosso fotorreceptor intrínseco. Um nova célula descoberta na retina, em 2002. Essa célula quando recebe uma carga alta de luz azul, precisa fazer um ajuste para visualizá-la. E é esse fator que pode estimular a miopia. Estudos, inclusive, apontam que se você tampar um olho para só um deles ficar exposto à luz azul, só no olho que ficou exposto a ela desenvolve a miopia.
“Esses estudos são parcialmente conclusivos, mas, na ciência, precisamos de certeza e de muitas constatações”, pondera Ricardo Guimarães.
E o que mais pode causar a miopia?
Para além da luz azul, outros fatores podem ser capazes de estimular a miopia, como é o caso dos fatores genéticos. Ou seja, é possível que, se em sua família alguém tem miopia, você tenha maior tendência em desenvolver o problema. Ou seja, a boa visão é hereditária. Porém, embora fatores genéticos e hereditários possam ser responsáveis por doenças, distrofias e disfunções visuais, os fatores ambientais e a falta de controle e cuidados com os olhos e com a saúde, podem causar doenças oculares em pessoas que nasceram sem qualquer problema na visão.
Afinal, miopia tem cura?
A resposta é sim e não. “Podemos fazer a correção do grau da miopia. Tanto com o uso de óculos ou lentes de contato, quanto com a cirurgia refrativa. Porém, não podemos corrigir o alongamento, o crescimento dos olhos causado pela miopia. Daí a importância da prevenção”, lembra Ricardo Guimarães. E isso porque a miopia tende a aumentar durante toda a vida. Pode ser que ela aumente mais durante alguns períodos e menos em outros, mas você não vai encontrar nunca uma pessoa que faça uso dos mesmos óculos, com o mesmo grau, por muitos anos.
“Curiosamente, ela estabiliza após a correção cirúrgica por laser. Esta foi uma grata observação. Então, sempre que possível, recomendamos a correção cirúrgica da miopia, atendendo o desejo da pessoa de não usar óculos, mas muito mais satisfeitos por sabermos que aquele olho tem mais chances de interromper um processo de crescimento progressivo indesejável.”
Mas, nem todas as pessoas podem operar. Para ser feita, a cirurgia depende da condição da córnea da pessoa. Por isso, para quem tem uma alteração na espessura da córnea ou um grau anômalo, o laser pode não ser a melhor opção. E por isso que cada tratamento deve ser avaliado caso a caso.
“Normalmente, limitamos o laser até oito ou dez graus, dependendo da pessoa. E para hipermetropia nós tendemos a não ultrapassar quatro graus. É por uma questão de segurança. Quando você ultrapassa os valores, se entra em uma faixa de risco aumentada. É como se eu dissesse ‘dirija a 80 km por hora que é muito seguro’, mas você vai querer dirigir a 110km, 120km. Tudo bem, você pode, mas você aumentou a sua chance de risco”, explica o presidente do HOlhos de Minas Gerais. Portanto, é preciso avaliar caso a caso.
E por que a miopia é uma doença?
A miopia é principalmente um erro de refração. Mas, é uma doença ocular que deve ser acompanhada com atenção. Isso porque ela está correlacionada com outras doenças oculares, possíveis de cegueira irreversível, como o glaucoma e o descolamento de retina. Justamente por isso, com o tempo, tornou se necessário que, com as ameaças trazidas pela miopia à qualidade de vida e saúde dos olhos, a patologia, então, fosse também prevenida, para além de tratada.
“Apesar deste aumento na conscientização, alguns oftalmologistas podem ainda não estar cientes do impacto potencial total da miopia na vida dos pacientes, em grande parte porque as ramificações não são visíveis para eles entre 10 e 20 anos após o diagnóstico”, afirma Ricardo Guimarães.
Por que a miopia pode causar glaucoma ou descolamento de retina?
É que a miopia acontece quando os olhos aumentam de tamanho. “A esclera, a camada externa do olho é um tecido que tem elasticidade e consegue acompanhar este aumento de tamanho sem maiores consequências. Mas, a retina e os neurônios não conseguem se alongar sem trazer risco a sua integridade e à visão.”
“Quando o olho aumenta de tamanho, a retina fica mais frágil e mais propensa a descolamentos ou perda de sensibilidade. E o aumento de tamanho facilita o aparecimento de glaucoma e catarata. Quando o olho aumenta de tamanho, a esclera fica mais fina e consequentemente temos um olho mais frágil, mais sensível a pancadas e traumas quando coçamos os olhos”, explica o presidente do HOlhos de Minas Gerais.
Sou míope ou tenho hipermetropia?
Para saber, um oftalmologista pode ajudar, e muito com o diagnóstico. Mas, você sabe a diferença entre miopia e hipermetropia? Não, eles não são iguais! A diferença está no tamanho. Olhos míopes são maiores que o normal, enquanto os hipermetropes são menores. “Cada olho humano mede cerca de 22 milímetros. Se aumentarmos o tamanho em apenas um milímetro, teremos a formação de três graus de miopia”, explica Ricardo Guimarães.
Saiba neste post como saber se a criança precisa de óculos.