Entenda como a neurociência pode ser aplicada à visão.

Redação

Qual a relação dos neurocientistas com os oftalmologistas?

Entenda como neurociência pode ser aplicada à visão. Neste artigo, produzido com o  Dr. Ricardo Guimarães, médico oftalmologista e Presidente do LAPAN – Laboratório de Pesquisa Aplicada à Neurovisão, vamos explicar para você a relação dos oftalmologistas com os neurocientistas

“Oftalmologistas estudam os olhos, suas doenças e formas de tratamento. A medida da acuidade visual é o grande indicador de funcionamento da visão e muito útil para identificar, por exemplo, erros de refração, normalmente, indicando o uso de óculos, lentes de contato ou cirurgia refrativa. Os Neurocientistas vão além. Eles se dedicam ao estudo do processamento da visão no cérebro e vão além da acuidade visual.” destaca Dr. Ricardo Guimarães.

Existem mais de 60 atributos visuais que compõem nossa visão final e o neurocientista se interessa por todos eles. Para quem estuda a neurociência aplicada à visão é importante conhecer a visão consciente que permite que você faça a distinção de coisas, objetos e pessoas no seu campo visual e a visão inconsciente que permite que você navegue, se mova, pelo ambiente. Por exemplo: os animais têm apenas visão inconsciente, que é automática, para atacar, se defender e reproduzir. Além disso, na neurovisão,  são estudados o movimento dos olhos, eye tracking,  as ondas de energia que são captadas pela retina denominadas de luz visível,  e como esta luz visível é transcodificada em sinal neural.

Enxaqueca, fotofobia, náusea e outros distúrbios relacionados à visão

Outra grande utilidade deste conhecimento que combina a oftalmologia com a neurociência,  é o estudo de casos de enxaquecas, dores de cabeça, fotofobia e náuseas causadas por algum distúrbio do processamento visual.

A grande descoberta do século 21

Todo este avanço foi muito favorecido, em 2002, pela descoberta de mais uma celular fotorreceptora nos olhos humanos, a célula chamada fotorreceptor Intrínseco ou IPRGC.

E depois de revelada  esta nova célula, o fotorreceptor intrínseco (IPRGC), foi descoberto que é também na retina que acontece o controle do nosso ciclo circadiano e relógio biológico. Ou seja: é com a informação luminosa captada por esta célula e levada ao nosso cérebro que o nosso organismo regula todo o nosso metabolismo e funções vitais, como dormir, acordar e sentir fome. E esta célula é muito sensível à iluminação artificial, principalmente à luz de telas de computadores e celulares. 

Saiba como se tornar um neurocientista da visão

A neurociência é um campo novo e importante com implicações para todos os aspectos de como as pessoas se movem, pensam e se comportam. Em 2007, estimava-se que condições neurológicas anormais afetavam até 1 bilhão de pessoas em todo o mundo.

As pessoas que ingressam nesta profissão precisam ter interesse em ciências e matemática. A maioria dos neurocientistas começa concluindo um bacharelado em neurociência antes de buscar um doutorado. A partir daí, os interessados podem, então, fazer uma bolsa de pós-doutorado, por exemplo, em um laboratório, para obter mais treinamento antes de se candidatar a uma posição no mercado de trabalho.

“O LAPAN está sempre aberto aos pesquisadores de outras universidades que tenham interesse em desenvolver parcerias. Nós já desenvolvemos projetos conjuntos que resultaram em publicações cientificas, teses de Mestrado e Doutorado com a PUV, USP, Unifenas, UNB, Triangulo Mineiro e muitas outras.” reforça Dr. Ricardo Guimarães.

Você ficou surpreso com a importância da neurociência? Então veja o que o Dr. Ricardo ainda tem a dizer sobre como a neurociência aplicada à visão pode ajudar no avanço da medicina como um todo.

 

VAN GOGH E SUA ORELHA CORTADA: Um caso de doença mental relacionada à visão?  Em seu autorretrato o pintor exibe a orelha cortada por ele mesmo em uma das suas crises psicóticas.

VPOF: Doutor, quais os avanços ainda mais surpreendentes que podem acontecer a partir da combinação da neurociência com a oftalmologia? 

Dr. RG: O diagnóstico de doenças psiquiátricas pela visão. Hoje, o diagnóstico de doenças psiquiátricas é essencialmente baseado na observação e identificação clínica do sintomas e a capacidade do paciente para responder corretamente às perguntas feitas pelo médico. Os sinais e sintomas em geral não estão manifestados totalmente no início da doença e se sobrepõe a outros transtornos psiquiátricos. Quanto mais cedo é feito o diagnostico e indicado o tratamento, melhor o prognostico. Embora, não raro,  o diagnostico conclusivo levar anos… Através da visão nós podemos, não apenas auxiliar no diagnostico,  mas também antecipar,  predizer um quadro de doença mental muito antes da doença começar a se manifestar. Mais que diagnosticar a doença mental, a visão nos permite diferenciar um diagnóstico, como, por exemplo, esquizofrenia, autismo, Parkinson, demência ou depressão. Esta nova descoberta permite ao médico orientar seus pacientes a tomar medidas preventivas para evitar ou adiar a progressão da doença para muitos pacientes.

Saiba mais sobre o seu cérebro e a neurociência neste próximo artigo.