Como o consumo de álcool pode afetar a sua visão
Cerveja gelada no fim de semana, taças de vinho no jantar com os amigos, “caipis” no happy hour. Afinal, o que as bebidas alcoólicas têm em comum? Os impactos do álcool no funcionamento do seu organismo.
Você provavelmente já sabe que bebidas alcoólicas e volante não combinam. Mas você tem conhecimento de que consumir álcool pode prejudicar muito mais do que a capacidade de dirigir?
Para entender, vamos explicar o que ocorre com o organismo quando estamos sob o efeito de álcool.
Do total de álcool que ingerimos, apenas 5% costuma ser eliminado pela transpiração, pela saliva ou pela urina. O restante é absorvido pelo corpo e acaba indo para a corrente sanguínea.
O fígado é o órgão responsável por metabolizar o álcool. Ele possui enzimas capazes de eliminar as substâncias alcoólicas. Quando bebemos em excesso, porém, o fígado não consegue metabolizar toda a quantidade de álcool ingerida. E o excesso se acomoda em outros órgãos, em especial no cérebro.
Um dos primeiros efeitos do álcool no cérebro é a sensação de que a pessoa está mais relaxada, alegre e desinibida. Isso se dá porque a bebida estimula a liberação da serotonina – neurotransmissor que controla o humor.
À medida que aumenta a quantidade de álcool no cérebro, outros neurotransmissores são afetados, e a pessoa, além dos efeitos sob o humor e o estado de atenção, começa a perder o controle da sua coordenação motora.
Como o álcool afeta a visão
Além dos prejuízos sensoriais e cognitivos, o sistema visual sofre alteração.
É comum que a visão fique dupla e embaçada e que a noção de distância e profundidade também fique afetada. O motivo? Os músculos que controlam o foco da visão são comprometidos pelo efeito do álcool.
Alguns outros sintomas também podem ser observados nos olhos após o consumo de álcool. Por exemplo, a vermelhidão. Isso se verifica por causa da redução da quantidade de oxigênio nas células vermelhas do sangue, responsáveis pela dilatação dos vasos sanguíneos, que ficam na parte branca dos olhos, a esclera. Outro sintoma que não pode ser observado por quem está de fora, mas pode ser sentido pela pessoa alcoolizada, é o estreitamento do campo visual. É comum que tenhamos a impressão de uma visão em túnel.
Vale lembrar que o consumo frequente e em quantidade significativa de álcool pode elevar a pressão ocular, resultando em danos ao nervo óptico, que podem causar o glaucoma.
Confusão mental refletida pelos olhos
Recebendo comandos dos músculos do cérebro, a pupila influencia o controle do foco do que enxergamos. As reações pupilares refletem a confusão causada no cérebro sob o efeito do álcool.
Uma pesquisa publicada na revista Perception, realizada por Kevin Johnston e Brian Timney, da Faculdade de Medicina e Odontologia de Schulich e do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Oeste de Ontário, no Canadá, analisou quanto e de que forma a visão fica comprometida pelo consumo de bebidas alcoólicas.
A conclusão foi a de que a visão pode ser prejudicada em até 30% antes mesmo de o bafômetro acusar que a pessoa atingiu o limite permitido por lei ou o ultrapassou. No Canadá, o limite legal de concentração de álcool no sangue para dirigir é de 0,08 mg/L; já no Brasil, o limite é de 0,05.
Ou seja, o movimento pupilar e suas reações podem revelar muito sobre as nossas condições físicas e mentais.
Pesquisando a pupila
Uma pesquisa realizada pela professora e doutora em Engenharia Mecânica (Bioengenharia), Camila Bim, do Laboratório de Pesquisa Aplicada à Neurociência da Visão (LAPAN), ligado à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), também avaliou a reação dos olhos após o consumo de álcool.
Um grupo de pessoas foi submetido a uma avaliação pupilar utilizando um pupilômetro (aparelho que mensura dinamicamente o tamanho da pupila), antes e depois do consumo de doses controladas de bebida alcoólica.
“Quando iniciamos a medição, observamos que existia um padrão de resposta mais comum aos olhos. Quanto mais álcool o participante consumia, maior a diferença pupilar. Isso foi observado em todos os participantes do teste”, explica Camila.
As reações pupilares podem prejudicar a realização de outras atividades, além de dirigir, e colocar vidas em risco. Segundo a pesquisadora, o estudo pode abrir portas para novos questionamentos.
“A pupilometria pode ser uma ferramenta que, futuramente, auxiliará a constatação do uso de outros entorpecentes e a avaliação da condição de um indivíduo, trazendo mais segurança para a nossa vida” afirma Camila.