Pais e filhos: a boa visão é hereditária?

Luana Rodrigues

Os olhos têm papel determinante na aparência de uma pessoa. É também pelos olhos que, normalmente, a semelhança da criança com o pai ou a mãe é realçada. Muitas vezes, até mesmo os avós,  podem ser representados pela cor ou formato dos olhos dos netinhos. Mas, afinal, a boa visão também é hereditária?  

Desde o primeiro momento de vida, a expectativa pelos olhinhos vibrantes e atentos  do bebê são motivo de alegria para toda família. Porém, além de uma das principais caraterísticas físicas de um bebê, os olhos, e a visão, têm uma importância muito maior na vida da criança. Isto porque, através deles, é possível monitorar a saúde do recém-nascido.

A atividade da pupila, o formato do olho, uma coloração diferente na conjuntiva, são diversos indicativos de que algo pode não ir bem com a saúde do bebê. Por isso, ainda na maternidade é importante realizar o “Teste do Olhinho”. O exame é capaz de detectar problemas no olho e na visão. Entre eles, a catarata congênita e tumores em estágio avançado.     

E por falar em doenças que podem ser identificadas logo após o nascimento, algumas delas podem ter sido enviadas pelo código genético. Achou complexo de entender? Nesse artigo, você poderá entender um pouco mais sobre o que é o fator hereditário e quais as doenças visuais que podem ser passadas dos pais para os filhos. 

O que são os fatores hereditários?

Todo indivíduo surge da fecundação de um embrião que herda 50% do DNA da mãe e 50% do DNA do pai. Cada pessoa é única. Ou seja, possui características próprias e exclusivas. Porém, toda criança carrega referências genéticas dos seus pais. 

Essa carga genética que determina cor de pele, olhos, cabelos, tipo físico e outras características, inclui também a propensão de adquirir algumas doenças, por exemplo, diabetes, hipertensão e alergias.

Doenças hereditárias são herdadas pelo gene. Quando as informações genéticas são  transmitidas por gerações, onde vários membros da família apresentam a mesma condição. Como por exemplo, daltonismo, diabetes, obesidade e hipertensão. 

Já as doenças genéticas podem ser ocasionadas e transmitidas por um erro no material genético. Isso pode acontecer devido a algum fator externo, durante a formação do feto. É o que acontece no caso da toxoplasmose. Mas pode acontecer também através de infecções, má alimentação, estresse, radiação e outros. 

Um exemplo de doença genética é o causado pelo Zika vírus. A infecção pelo zika vírus durante a gravidez é uma causa de microcefalia. 

Mas é importante que você entenda: as doenças hereditárias são genéticas, mas nem todas as doenças genéticas são hereditárias. 

Falando em saúde visual, muitos erros e distúrbios do processamento visual  podem ter relação com o histórico familiar. Conheça alguns exemplos:

Miopia e doenças oculares

Os traços hereditários são herdados, mas não necessariamente serão desenvolvidos. Isso significa que por mais que os pais tenham algum tipo de problema visual, os filhos podem ou não desenvolver o problema. 

Alguns problemas visuais são propícios a serem desenvolvidos, levando em conta o fator hereditário. Entre eles, um erro de refração muito comum: a miopia. 

Também são comuns o estrabismo, a catarata congênita, o glaucoma, o ceratocone e o daltonismo.

Dra. Márcia Guimarães, médica oftalmologista e chefe do departamento de Neurovisão do HOlhos, explica que, para diagnosticar com precisão se um filho pode ou não adquirir os mesmos problemas visuais dos pais é necessário que seja realizado o teste genético.

“É importante avaliar, através do teste, se realmente o problema é transmitido de uma maneira dominante ou recessiva para a família. É importante entender as situações em que são doenças congênitas, hereditárias, se elas estão associadas à alguma síndrome. Mas quando falamos de fator genético, avaliamos se existem casos na família. Se o avô, o pai ou o irmão tem alguma condição que pode se repetir” explica. 

Fotofobia e Síndrome de Irlen 

Um desses exemplos, é a fotofobia. O desconforto causado pela sensibilidade à luz, pode ser observado em toda família. Ele pode se agravar em determinadas gerações. Entre os sintomas, estão as dores de cabeça, dificuldades na leitura, de atenção e em ambientes muito iluminados. 

A fotofobia é um grande desconforto em lidar com a luz, associado a uma dificuldade própria de se adaptar ao ambiente claro e escuro.
Geralmente está associada à dores de cabeça e enjoos

Fatores hereditários no processamento visual

Se a fotofobia pode ser causada por um fator hereditário, outros distúrbios no processamento visual também podem ter a mesma origem. 

A Síndrome de Irlen é uma condição que dificulta o uso pleno da visão e é caracterizado por dores de cabeça, cansaço em ambientes muito iluminados e alterações na orientação visuoespacial.

Dra. Márcia conta que no Departamento de Neurovisão do HOlhos, o diagnóstico da Síndrome de Irlen geralmente carrega uma prevalência entre familiares. “Cerca de 80% dos casos, ou o pai ou a mãe também tem a Síndrome de Irlen. Quando conhecemos a fundo a família, ouvimos relatos do pai, da mãe e até do irmão, que não gostava de estudar ou interrompeu os estudos. Que não gostava de barulho, que tinha dificuldades de se concentrar”.  

 

Quais os cuidados os pais devem tomar com os filhos com predisposição hereditária 

Os pais que têm algum histórico familiar ou algum problema visual devem investigar qualquer possibilidade de o filho desenvolver o mesmo problema. Desde o nascimento as consultas devem ser regulares.

Lembre-se: sempre converse com o oftalmologista sobre o histórico familiar sobre a predisposição em desenvolver algumas doenças. As doenças oculares, com fator hereditário, podem ser descobertas antes e tem mais chances de sucesso no tratamento. 

Confira também um artigo com alguns dos principais cuidados que toda mulher precisa ter durante a gestação para que tudo corra bem com a sua da mãe e do bebê.