Ler é muito difícil. Você sabe por que a leitura é uma das coisas mais complexas que aprendemos a fazer?

Redação

A complexidade da leitura

Saber ler não estava previsto pelo nosso cérebro. A visão humana – assim como a dos animais – foi originalmente programada para a sobrevivência. Os movimentos indomáveis e rápidos dos nossos olhos – de até 500 vezes por minuto – tinham como função identificar caça e predador. Com a evolução do homem, o nosso Sistema Visual foi evoluindo para novas e difíceis habilidades como a leitura. Para ler é necessário “domesticar os olhos”. E é o cérebro que comanda tudo isso.

Diferente do que pensamos, durante a leitura, o deslocamento dos nossos olhos não acontece de forma contínua no sentido da frase, da esquerda para a direita ou de cima para baixo, por exemplo.

Nosso Sistema Visual faz uma série de movimentos, buscando mapear o que está sendo lido ou visto. Os olhos captam a informação, mas cabe ao cérebro decodificar letras, sílabas, palavras e imagens. Compreender formas, contornos, profundidades, formando o nosso campo de visão.

E para que tudo isso aconteça de forma adequada temos que contar com as nossas habilidades visuais.

O processo de leitura e aprendizado depende de diferentes fatores como luz, vibração do corpo e a mídia utilizada, que podem influenciar a qualidade com a qual assimilamos a informação.

O atual indexador do exame oftalmológico que atesta que uma criança está apta para aprender a ler é o teste de letrinhas, em diferentes tamanhos: a tabela de Snellen. No entanto, para uma boa qualidade de leitura, seja em papel, na tela do computador, no tablet ou no celular, a criança precisa ser capaz de se adaptar às condições do ambiente.

 

Tabela de Snellen.

 

A qualidade plena de visão vem da capacidade de adaptação do nosso sistema visual aos estímulos ambientais

Claro, escuro, longe, perto, em movimento, parado, pequeno, grande, fosco ou brilhante. São inúmeras adaptações necessárias, feitas em conjunto pelos olhos e pelo cérebro. Fazemos isso, milhões de vezes, todos os dias.

Mas algumas pessoas não conseguem fazer isso. Não são capazes de adaptar-se rapidamente a tantas variações. Porque para elas tudo é percebido de forma muito mais aguda. Todas as variações e estímulos do ambiente são mais gritantes e, muitas vezes, irritantes do que para a maioria. São os portadores da Síndrome de Irlen (SI) também conhecida como Estresse Visual.

“A leitura pode ser influenciada por vários fatores, como a vibração mecânica, que, ao chegar à cabeça, pode desestabilizar o sistema oculomotor e interferir na legibilidade de um texto. Muitos leitores apresentam uma hiperexcitabilidade cortical que pode causar dificuldades no processamento sensorial de diferentes características do espectro da luz visível e que podem provocar fotofobia, estresse visual, desconforto e/ou dificuldades na leitura”. Destaca Valéria Prata, fisioterapeuta e autora da tese de Doutorado sobre Estresse Visual pela UFMG.

Valéria é pesquisadora do Laboratório de Pesquisa Aplicada à Neurociência da Visão (LAPAN), ligado à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e em sua tese de doutorado, estudou a influência da Vibração de Corpo Inteiro (VCI), mídias e iluminação artificial na cinemática ocular durante atividades de leitura. Ou seja, como esses diferentes fatores podem influenciar na qualidade da leitura.

A principal motivação de Valéria foi produzir conhecimento científico para fazer com que as pessoas sejam ouvidas e tenham suas queixas e problemas tratados de forma adequada.

 

Dra. Valéria Prata, fisioterapeuta e autora do estudo que avalia o efeito da vibração na movimentação dos olhos durante a leitura. Foto: Valnice Gonçalves

 

“A motivação principal é o que senti ao longo da vida. Descobri que tenho Irlen (Estresse Visual) há 4 anos, mas que sou sintomática há mais de 25. Como faço parte do grupo, sei exatamente o que é ter um problema e ouvir das pessoas que o que você sente não existe.”

Quem pode identificar a Síndrome de Irlen?

Na maioria dos casos, a falta de conhecimento sobre a SI dificulta o diagnóstico e, assim, a vida do portador – especialmente nos períodos de maior demanda de atenção visual, como atividades escolares, acadêmicas e profissionais que envolvem leitura por tempo prolongado.

A Fundação H.Olhos e o Laboratório de Pesquisa Aplicada à Neurovisão (LAPAN) desenvolvem um trabalho de capacitação voltado para profissionais da saúde e educação. O curso DARV – Distúrbios de Aprendizagem Relacionados à Visão, tem duração de quatro dias e, em sua 35ª edição, já formou cerca de 6 mil profissionais de todos os estados do Brasil.

Os conhecimentos compartilhados no curso DARV permitem identificar, a partir da aplicação do Método Irlen, os distúrbios visuais causados pelo Estresse Visual. A 35ª edição do curso acontece no dia 19 de novembro

Conheça agora a pesquisa que explica porque a Vibração de Corpo Inteiro (VCI) e diversos fatores como Iluminação Artificial podem tornar a leitura tão difícil.