Os seus olhos também envelhecem: conheça a DMRI

Luana Rodrigues

Problemas visuais são comuns em todas as idades e, a medida que o tempo vai passando, assim como todas as partes do nosso corpo, os nossos olhos também envelhecem e podem se degenerar. O significado de degenerar é perder a eficiência e a qualidade de funcionamento a cada dia que passa. Neste artigo vamos falar de um problema visual que pode surgir após os 60 anos: a Degeneração Macular.

Hoje, vamos compartilhar com você a entrevista feita pela equipe do VPoF com a Dra. Juliana Guimarães, médica oftalmologista especialista em retina  do HOlhos, sobre a Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI),  considerada uma das principais causas de cegueira na terceira idade. Confira:

VPoF: O que nós precisamos saber para entender a Degeneração Macular Relacionada à Idade?

JG: Primeiro precisamos entender o que é a mácula. Ela é a parte central da nossa visão. O nosso olho tem uma distribuição irregular de células que captam a luz, os fotorreceptores.  Grande parte dessas células estão concentradas em um ponto bem pequenininho, central.

Por isso há uma desproporção muito grande do que a gente vê no centro e o que a gente vê em volta. Nós vemos com muito mais detalhes, mais resolução o que está no centro da visão, do que na periferia. E a mácula é justamente esse lugar central. Ou seja, se a mácula, onde temos muito mais células fotorreceptoras, começa a se degenerar, vamos perder muito mais detalhes e definição do que vemos.

A degeneração macular  é uma doença muito parecida com o que a velhice faz com a retina, então ela pode ser considerada como uma aceleração do envelhecimento.

VPoF: Quais são os sintomas da DMRI? Como a pessoa percebe que está sendo afetada?

JG: O principal sintoma da degeneração macular, está na mácula – a parte central da visão. Então,  os primeiros sintomas são uma dificuldade com essa visão central, a nossa visão mais importante. É ela que usamos para ler, ver as expressões faciais quando conversamos com alguma pessoa, para assistir televisão, etc. 

A pessoa começa a notar que a visão não está mais nítida ou que está vendo uma “mancha” justamente na parte central, e pode sentir uma grande dificuldade na hora de usar a visão para detalhes. 

A Tabela de Snellen é aplicada para testes de acuidade visual. Normalmente as letras menores são as mais difíceis de ler. Já a pessoa com DMRI pode não conseguir ler nem as maiores e mais legíveis.

VPoF: E a mancha que a pessoa vê, vai aumentando? Ela pode deixar de enxergar completamente? 

JG:  Nas formas avançadas da degeneração macular, nos casos mais graves, a mancha central vai se tornando cada vez maior. Pode acontecer de chegar ao ponto que a pessoa vá ao consultório oftalmológico e não consiga reconhecer as letras na tabela de Snellen, nem as maiores e mais legíveis. Com isso, a gente considera a pessoa cega, do ponto de vista legal, porque a pessoa já está com a visão bem comprometida e não consegue ler mais nada.

Agora, aquela cegueira, de imaginar que a pessoa não consegue enxergar nada, a porta, a janela, isso não acontece. Então, nem na forma mais grave da degeneração macular a pessoa fica completamente cega. Mas fica muito complicado, pois ela vai ter dificuldades em várias atividades do dia a dia. Então a cegueira causada pela DMRI é do ponto de vista legal. Já do ponto de vista prático, a pessoa continua sendo capaz de manter algumas atividades, com bastante limitação,  mesmo no estado mais grave da doença. 

VPoF: A DMRI é uma doença relacionada apenas a idade? O número de casos tem aumentado? Por quê? 

JG: A degeneração macular, como o próprio nome diz, está relacionada com a idade. Hoje em dia, existe um número maior de pessoas com o diagnóstico de degeneração macular do que antigamente. Isso é provavelmente devido ao aumento da expectativa de vida. Ou seja, proporcionalmente,  muito mais pessoas estão envelhecendo do que envelheciam nas décadas passadas. Então, atualmente, há um número maior de pessoas que podem chegar ao ponto de desenvolver a doença, receber o diagnóstico e entrar para as estatísticas. 

Dra. Juliana Guimarães, médica oftalmologista, especialista em retina no 7º Congresso Brasileiro de Neurovisão 

VPoF: Mesmo estando relacionada à idade, é possível criar hábitos para evitar a progressão da doença?

JG: Existem, sim, hábitos que podem fazer a doença aparecer mais tarde e progredir de forma mais lenta. E é fácil da gente saber quais hábitos são relacionados à vida saudável. Vou listá-los:

1 – Praticar exercícios: estudos mostram que a prática de exercícios físicos diminui o avanço da doença em quem já tem e aumenta o tempo até que ela apareça. 

2 – Boa alimentação: uma dieta concentrada principalmente em antioxidantes, que estão presentes em frutas e em vegetais. No caso da DMRI, existem alimentos muito importantes, como folhas verdes escuras, por exemplo, espinafre, rúcula, agrião e brócolis.  

3 – Não fumar: o tabagismo também está relacionado de forma intensa com a doença. Então é importante, principalmente para quem têm pessoas na família com DMRI, abandonar o hábito de fumar o quanto antes. 

4) Controlar a pressão alta e a diabetes: é importante que os portadores façam visitas frequentes ao oftalmologista e adotem hábitos saudáveis, mantendo todas as outras doenças controladas. 

VPoF: Se a DMRI é uma doença causada pelo envelhecimento, é possível tratá-la precocemente?

JG: É possível tratar a DMRI. Mas é importante a gente dizer que não é uma doença única. Existem subtipos de DMRI (Saiba mais aqui). Existem casos em que não há tratamento e existem casos em que é possível tratar e recuperar a visão, completa ou parcialmente. Para saber se há ou não a possibilidade de tratamento, realizamos exames, entre eles a Tomografia da Retina (OCT). Através desse resultado, sabemos se é necessário o tratamento e como será feito.

O tratamento da DMRI tem uma janela de oportunidade. Então, se deixar passar muito tempo, se a pessoa não procurar um médico o mais cedo possível, pode acontecer da doença cicatrizar de uma maneira que não possibilite mais o tratamento. 

O exame de rotina é fundamental para uma possível intervenção. Assim, o oftalmologista tem a certeza de que a DMRI não está acontecendo. Porque ao notarmos os sinais iniciais, vamos acompanhar mais de perto, justamente para tratar no melhor momento. Porque um tratamento tardio, pode impedir o paciente de recuperar completamente a visão. Mas de forma geral, na maior parte dos casos, a DMRI é tratável.

VPoF: Além de uma melhora na acuidade visual, o que mais pode ser destacado para que as pessoas busquem o diagnóstico seguido de um possível tratamento?
JG: Uma coisa interessante da gente falar sobre o tratamento ,é como eu disse, que o exame é objetivo em indicar se tem ou não intervenção. Então, quando a gente trata, temos uma boa noção, se vamos conseguir melhorar a visão ou não. Se a opção for tratar é porque temos confiança de que vamos ajudar a pessoa. E é interessante também reforçar:  o tratamento é bem tranquilo. Não é doloroso. A maior dificuldade é a visita regular ao médico. Muitas vezes a frequência é mensal. Então, são muitas consultas, mas não é necessário cirurgia.  

Você concorda que, dentre os cinco sentidos do corpo humano, o mais importante é a visão? Então conheça a história em que a visão transformou o sentido da palavra “vida”.